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Falta de contadores pode impactar o mercado nos próximos anos

Especialista aponta que uma grave falta de mão de obra pode ocorrer na contabilidade nos próximos dez anos.

O Conselho de Supervisão da Contabilidade de Empresas de Capital Aberto (PCAOB, regulador do setor nos EUA) identificou um declínio no número de pessoas que ingressam na área contábil e que fazem exames para certificação profissional.

Além disso, o Conselho afirma que há uma perda de interesse dos estudantes nos cursos universitários de contabilidade, que passam a visão de uma profissão “chata e bitolada”.

Diante disso, uma grave falta de mão de obra pode ocorrer nos próximos dez anos, de acordo com a executiva-chefe da área de auditoria da Deloitte nos Estados Unidos, Lara Abrash.

O número de pessoas que fizeram o exame Contador Público Certificado dos EUA (CPA, necessário para habilitação como profissional), havia caído para o nível mais baixo em dez anos mesmo antes da pandemia, que, por sua vez, provocou um declínio ainda maior, para apenas 72.271, em 2021, em comparação aos quase 103.000 de cinco anos antes.

“A tendência de queda é bem recente”, disse Abrash. “Simplesmente perdemos a capacidade de contar nossa história enquanto as pessoas estão planejando suas carreiras.”

Incentivo à área contábil

Por esse motivo, o setor está tentando reverter essa tendência. Desde as chamadas "Big Four", maiores empresas de auditoria, até os órgãos reguladores estaduais da contabilidade, têm promovido uma série de novas medidas para tentar atrair mais pessoas à carreira, como anúncios publicitários para alunos do ensino médio e programas para reduzir o custo para tornar-se um contador público certificado.

O Center for Audit Quality (CAQ), associação setorial cujo site Accounting+ foi criado para derrubar mitos e tem os jovens como alvo, informa que procura mais apoiadores.

O site enfatiza como a tecnologia e a inteligência artificial automatizaram muitas das antigas tarefas contábeis, abrindo caminhos para tarefas mais criativas, como a análise de dados, a assessoria a decisões de negócios e a caça a fraudes.

O site também traz jogos de perguntas e respostas, além de conselhos astrológicos sobre que tipo de contador os jovens podem querer se tornar. Gêmeos, libra e aquário são os “pensadores, comunicadores e praticantes do zodíaco” que “analisam, sintetizam e sondam” e “se sairiam bem num programa de estágio de perícia contábil”, por exemplo.

A campanha Accounting+ remete a Warren Buffett quando chamou a contabilidade de “o idioma dos negócios”.

“Acreditamos que é uma ponte para os estudantes. O idioma dos negócios oferece um caminho para o empreendedorismo”, disse o vice-presidente do CAQ, Liz Barentzen.

O grupo acredita que o aumento no número de pessoas entrando na profissão depende de ampliar seu apelo à diversidade.

“Há uma geração chegando que valoriza uma força de trabalho diversificada e inclusiva, mas ainda não temos essa história para contar”, disse Barentzen.

Os líderes do setor não acham que uma simples reconstrução de marca será suficiente para atrair o número de contadores necessários ou romper barreiras à diversidade. Muitos ressaltam para o próprio exame CPA, que exige dos candidatos 150 horas de ensino superior além do curso tradicional de quatro anos, o que representa um caro quinto ano.

As Big Four criaram vários programas “aceleradores” de CPA. A KPMG, por exemplo, está se oferecendo para começar a pagar com dois meses de antecedência aos novos contratados em 2023, enquanto eles concluem o período extra de ensino, de acordo com Becky Sproul, líder de talentos e cultura da KPMG nos EUA.

Por sua vez, o conselho de contabilidade do Estado de Nova Jersey alterou recentemente suas regras. Agora, permite que períodos de experiência profissional contem, em parte, nessas 150 horas, algo que o setor espera que também se repita no resto país.

Na semana passada, a PwC começou a oferecer essa experiência de trabalho para estudantes de contabilidade da Universidade de Saint Peter, em Nova Jersey.

Em breve também haverá mais flexibilidade no exame CPA. Os candidatos vão poder optar por módulos especializados, como o de análise de negócios ou de sistemas de informação a partir de 2024.

O setor pressiona o Congresso americano para que o financiamento de programas governamentais a cursos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês) também seja direcionado à contabilidade, sob o argumento de que agora também se trata de uma área de alta tecnologia.

“A profissão mudou muito”, afirma o vice-presidente executiva da Associação Nacional de Conselhos Estaduais de Contabilidade (Nasba), Colleen Conrad, que representa os reguladores do setor.

“A tecnologia está em praticamente tudo o que você faz na profissão contábil e os contadores públicos certificados gastam muito tempo com controles internos, controles de sistema, cibersegurança.”

Salários

Em seu discurso, a integrante do Conselho de Supervisão da Contabilidade de Empresas de Capital Aberto, Christina Ho, apontou como um dos problemas fundamentais o fato de os salários iniciais serem mais baixos em comparação a outras profissões.

“O salário inicial na profissão de auditoria é menor do que em outras profissões, como cientistas de dados e profissionais de TI”, disse. “Na minha opinião, isso é uma crise. Não podemos ter um mundo sem contadores ou um mercado de capital sem auditores.”

A Agência de Estatística do Trabalho dos EUA calcula que o salário médio inicial de auditores e contadores no país é de US$ 77.250, segundo números de 2021, embora os valores nas grandes firmas sejam bem maiores. Fóruns sobre emprego em redes sociais on-line frequentemente mostram reclamações de contadores em início de carreira sobre as longas horas de trabalho e os baixos salários.

Contudo, a executiva da Deloitte, Lara Abrash, acredita que a escassez “não é um problema apenas econômico, pois esta não é uma geração que se preocupa só com dinheiro”.

O vice-presidente da Nasba, Conrad, disse que uma eventual desaceleração econômica poderia contribuir para que as pessoas voltem à profissão.

“Quando a economia está bem, o mercado está bem, há muita atividade de fusões e aquisições, pessoas que talvez quisessem entrar na contabilidade podem dizer que preferem ir para as finanças”, disse. “Se a economia começar a mudar de direção e começarmos a ver demissões, como vimos recentemente entre os bancos de investimento, você poderá ver as pessoas voltando à contabilidade”, concluiu.

Com informações do Valor Econômico

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